Ácido Carboxílico

11/15/2009

Silêncio

Filed under: Uncategorized — Renata Bruscato @ 7:28 PM

O céu assumia os tons de azul mistos com um alaranjado típico tanto do início do dia quanto do anoitecer, tornando impossível a tarefa de descobrir que horas eram. Crystal acabara de abrir os olhos, e em pouco tempo constatou estar deitada numa clareira. Sentia o corpo pesado, de modo que não conseguia encontrar forçar para se mover. Curiosamente sentia a cabeça leve, muito leve, com os pensamentos livres, rápidos e precisos.

Enquanto tentava se levantar, um som agradável invadiu-lhe os ouvidos, e, tomada pela curiosidade, finalmente arranjou forças para se erguer. Apoiou os cotovelos na grama fresca e macia atrás de si, soerguendo o tronco para encontrar a origem da música que escutava. A melodia suave se aproximava graciosamente, e não se passou muito tempo até que Crystal visualizasse a sua fonte. Duas moças de longos cabelos ondulados se aproximavam por entre as árvores, uma tocando flauta enquanto a outra dançava fazendo círculos amplos no ar e sobre a grama, girando graciosa com os braços abertos. Vestiam-se com tecidos coloridos, e, pelo modo como se moviam, pareciam ser o próprio vento.

A música parou quando as moças se deram conta de que tinham companhia, e se aproximaram dela na mais pura   curiosidade, a indagação presente em seus rostos. Inclinaram-se devagar, a que antes dançava virou a cabeça ligeiramente para a esquerda na tentativa de contemplar melhor a estranha. Foi nesse instante que Crystal notou as asas às costas das moças, asas transparentes que as deixavam com um aspecto de fada.

<3~

A moça caída recuou ainda no chão, usando os cotovelos como apoio, e conseguiu ir um pouco para trás. Aquela situação começava a assustá-la, afinal, o que aquelas duas mulheres estariam fazendo por ali, olhando-a como se fosse de outro planeta e ainda por cima no mais completo silêncio? Ergueu-se rapidamente do chão, como um raio, dominada pela adrenalina, e saiu correndo para a direção oposta à das mulheres-fada. Sentia os pés descalços sendo feridos pelas pedras e galhos no chão, e alguns dos galhos ainda nas árvores, daqueles que mais pareciam braços, arranhavam-lhe o rosto.

Já não tinha mais noção do tempo quando tropeçou, caindo de borco. A corrida podia ter durado dois minutos ou duas horas, Crystal não saberia dizer, mas quando ergueu a cabeça, deduziu que não poderia ter passado muito tempo, já que o sol ainda estava na mesma posição. Olhou ao redor e percebeu que tropeçara na saída da floresta, e que agora tinha à frente um campo aberto, recoberto pela mais viva grama.

Alguma coisa chamou a sua atenção quando se colocou de pé, reunindo todas as forças que lhe restavam para tal. Era um objeto de formato curioso, não estava muito longe, embora também não estivesse perto demais. E só quando se aproximou que percebeu o que era aquilo… Um sofá. O encosto era composto por arabescos metálicos, com delicadas almofadas de veludo vermelho no assento.

Passou a mão direita pelo estofado e sentiu o corpo ficando pesado de novo. Só agora, que o efeito da adrenalina passava, percebera que tinha sono. Não ofereceu resistência alguma e se deitou, aconchegando-se a uma das almofadas e caindo no sono minutos depois.

No hospital, Crystal abriu os olhos e deu seu último suspiro. O aparelho parara de registrar seus batimentos cardíacos, e apenas uma coisa podia ser ouvida naquele quarto agora: “Piiiiiiiiiiiiii…”

sofá

2 Comentários »

  1. Fiquei com vontade de morrer um pouquinho depois que li!rsrs Para mim, esse é um dos melhores textos seu. Parabéns.

    Comentário por Nathane — 11/18/2009 @ 7:00 PM | Responder

  2. Concordo contigo, acho esse um dos meus melhores textos, além de ser um dos meus favoritos.

    Comentário por Renata Bruscato — 11/18/2009 @ 8:59 PM | Responder


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