Biscoitos

Olga acordava todos os dias às 6 da manhã para assar seus biscoitos. Senhora idosa, com seus 80 anos completos, era mais jovial que muitas mulheres com metade da sua idade. Seus biscoitos eram conhecidos na pequena vila onde morava, assim como seus hábitos. Depois de assar, Olga levava-os para vender de porta em porta, das 8 da manhã até as 5 da tarde, então voltava para casa e até as 8 da noite tinha o costume de fazer a massa dos biscoitos que seriam vendidos no dia seguinte.

Solteira desde sempre, Olga não tinha filhos, mas nunca sentiu falta deles. Sempre fora muito bem acolhida na pequena vila, sentia-se parte da família de todos. Tinha uma casa simples, sem animais de estimação, e a única coisa que fazia questão de comprar sempre era a velha tintura de cabelo num tom de dourado fosco que usava desde que os primeiros fios brancos se acusaram.

Era manhã de quinta-feira, e Olga saiu de casa para ganhar o seu sustento. Vendeu bem, como sempre, e fez a sua rotineira parada para o almoço na Cantina da Carol. A última freguesa que visitou foi Maria Alice, que pediu os últimos cinco biscoitos de Olga.

– Vendo os quatro que me restam, mas o quinto fica. -, respondeu a velha senhora.

– Mas por que a senhora não vende o último biscoito, Dona Olga? – Indagou a outra, curiosa.

– É segredo, Alice. Segredo!

E rindo divertida, Olga tomou o caminho de volta para casa.

Demorara-se um pouco mais que o normal, já que Annette a convidara para uma xícara de chá, tomando-lhe uma hora, portanto, quando Olga chegou na esquina de casa, o relógio marcava quase 6 horas e o sol já estava baixo no horizonte. Ao passar por um beco estreito, Olga foi abordada.

– Todo o dinheiro no saco, vó. Agora!

O rapaz encapuzado falou em sussurros, deixando a lâmina do seu canivete pressionada contra a pele frágil do pescoço da velha, que obedientemente depositou todo o dinheiro do dia na sacola do homem enquanto implorava:

– Por favor, poupe a minha vida! Leve o dinheiro e o último biscoito, por favor, eu…

Olga não foi capaz de concluir a frase, e só o que se pôde ouvir a seguir foi o canivete rasgando a pele fina e o corpo tombando no chão. O rapaz pegou o biscoito antes que o sangue o atingisse e mordeu-o, falando em seguida:

– Tua vida devia ser uma merda se ela valia só um biscoito e uns trocados.

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O obituário na manhã de domingo mostrava a foto do assassino de dona Olga, e junto com alguns dados pessoais do rapaz, informava que a morte fora causada por envenenamento.